Mentiras, Ladainhas & Afins

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Local: São Paulo, SP

JURO CÁ ENCONTRARÁ somente meias-verdades, histórias da carochinha e mentiras inteiras, com “M” maiúsculo.E deixo claro desde já que caso, por ventura, quaisquer dos fatos de fundamento duvidoso cá relatados – ou seja, TODOS, asseguro – se assemelharem com a verdade, ou a descrição de algum dos personagens lhe pareça familiar a esse político, aquele papa ou à senhora sua mãe: Isso é fruto da sua criativa imaginação, a carapuça serve a quem quiser. Por mais verdadeiro que o relato for, em algum ponto, pessoa ou nome tem o meu bedelho ou para no futuro não ser incomodado pela justiça ou pura e simplesmente para deixar a história/estória (a escolha vai da inocência de cada um) mais interessante. Assim sendo, é favor não me processar caso incomodados, não tenho grana para pagar indenização muito menos direitos por uso de imagem, e será a sua palavra contra a minha, e a minha, como já disse mas repito: É que é tudo ladainha! Tácio.Oliveira - O.Mentiroso

23.10.09

ÁGUA PELAS CANELAS


ERA UMA SEGUNDA-FEIRA. Por volta das seis horas os moradores do residencial da Herculano de Freitas dormiam.

Dias anteriores ao incidente, o rapaz do 44 – Hélio, eu acho – recebeu por visita o Senhor Seu Avô. Que segundo relato do tal rapaz, que não é de falar muito e nunca segura o elevador, veio pra ajudá-lo a pintar o apartamento. Bom, não sei que ajuda brava foi essa visto que eu só encontrava o vovô sujo de tinta. Sem mais delongas, era por volta das seis e pouco quando eu ouvi o barulho.


Houve um barulho, os moradores disseram. Gritos. Hélio/Heleno/Hiago, o avô gritava. Nenhum dos moradores sabia ao certo o nome do morador do 44. Todos concordavam: Não, nunca segura o elevador o tal mal-educado. Depois do barulho, cortaram o abastecimento de água. Chuva de ligações para o porteiro. “Viu, é que o Avô do rapaz-do-44-que-não-segura-o-elevador quebrou sem querer o registro do banheiro. Foi necessário fechar porque a mocinha do 34, o apartamento debaixo, sabe?, estava já com água pelas canelas. A água jorrava do teto, infiltrou, um horror... Há que compreender!” explicava o porteiro ao morador que ligava desesperado.


- Pois diga o Senhor-Porteiro à egoísta do 34, que ela está reclamando é de barriga cheia. Visto que preciso ir trabalhar, sofro de sudorese e se não me banho, tenho péssimo rendimento na firma. E enquanto a dondoca tem as Cataratas do Niágara no seu banheiro, eu tenho que me contentar com o Saara no meu chuveiro.


O porteiro, prestativo, passou o recado. A moradora do 34, que não é “besta de ouvir desaforo em casa” fez questão de interromper a drenagem que fazia em seu banheiro com auxílio uma bacia e da filha pequena. Colocou muito-macha as mãos nas ancas, Péra lá!, encheu uma boa baciada d’água e correu bater à porta do Suadinho do Saara.


Enquanto a moradora do 34 acertava suas diferenças com o rapaz da sudorese – que a essa altura já estava bem molhado –, dentro do 44, um avô de seus 67, um neto de seus recém completos 22, deitados no chão do banheiro, ambos molhados, gargalhavam e lembravam de quando o rapaz, ainda criança, não conhecia o mar e teve medo das ondas.


Tácio.Oliveira - O.Mentiroso