NA ROÇA, AQUELA MANHÃ, a brincadeira entre a criançada era a seguinte: Chutar galinha!!!
Teria o leitor, por um acaso, alguma vez na vida chutado uma galinha? Se sim, irá concordar que tarefa fácil não é, a danada sai correndo como que do próprio Satanás, disparada, sem rumo...
Depois de uma reunião seriíssima, Fio-de-Nhô-Manel, O-da-Bernadete e o Pereirinha decidiram: Marcelina brinca!
A garota em questão – vestido rodado de chita, renda-muita-renda no barrado, nas anáguas, nas calçolas, laço-bem-dado de cetim na cabeça, sapatos de boneca e meias brancas, e vermelhos-muito-vermelhos-e-revoltados cachos que metragem alguma de fita de cetim domaria, mas com laço! – deu muitos pulos de alegria com a notícia: participaria da brincadeira! Com certeza iriam brincar de pião, bolinha de gude, iriam soltar pipa, Quero uma vermelha, e ela iria bem alto lá no céu... “Como assim chutar galinha???”
-Chutar, oras! Você corre atrás dela, é difícil, mas não pode desistir, aí você corre-corre-corre. Pegou? Segura! Mira bem no popô e dá um chute! Vence quem chutar mais longe e não deixar a galinha gritar muito pra Dona Maria não perceber. Entendeu?
Ela tinha entendido. Não gostou lá muita coisa da idéia de chutar a pobrezinha, devia ter ficado em casa, pensou, hoje é dia de cuidar do jardim. O pai dela tinha um jardim, cantava enquanto regava as begônias, as margaridas, os gerânios; às vezes até deixava ela plantar uma mudinha, sujar-se de terra, caçar umas minhocas. Ela faz careta “Eca, minhoca” depois ri pra trás da palavra minhoca, que era engraçada de se dizer.
Mas não, iria mal ou bem chutar aquelas galinhas gordinhas, só pra provar pros meninos que ela não era chorona coisíssima nenhuma, era muito da valente, sim senhor!
As galinhas ciscavam no quintal de terra. Fio-de-Nhô-Manel, O-da-Bernadete, Pereirinha – todos maltrapilhos: chinelo de dedo, bermudas, camiseta – acompanhados por Marcelina olhavam, agachados atrás de umas árvores as galinhas no ciscar. Vai lá, Marcelina, o galo não ta por perto. Vai, vai.
Marcelina segura na barra do vestido, olha o grupo de galinhas e dispara rasgando um pedaço do vestido num galho: pára,faz cara feia pro rasgo, passa a mão umas duas vezes. Corre-corre-corre, levanta poeira. As galinhas percebem, se espalham. Ela escolhe uma, mantém o foco, tá quase pertinho: Dá o bote. Tibum!!!
A poeira é tanta que os meninos não sabem o que aconteceu. Uma sombra dentro da nuvem de poeira. Som de tossidos. A poeira baixa: Ela pegou! Ela pegou! Isso, Marcelina, você pegou, você pegou!
Marcelina – vermelha de terra, vestido em trapos, um só pé de sapato calçado, laço desfeito – estava parada no meio do quintal com a galinha levantada na frente do corpo, olho no olho. “Agora chuta, Marcelina! Chuta! É só chutar!” diziam os garotos.
Hipnotizada, ela se mantém por alguns segundos mirando a galinha. Que bonitiiiiinha!!! declara. Dá um abraço, um chamego bem apertado. “Vai fofinha, vai pra casa, viu? Vai lá comer minhoca!" E riu pra trás, caída no meio do quintal. Minhoca é palavra engraçada de se dizer...
Mentiras, Ladainhas & Afins
Quem sou eu
- Nome: Tácio Oliveira
- Local: São Paulo, SP
JURO CÁ ENCONTRARÁ somente meias-verdades, histórias da carochinha e mentiras inteiras, com “M” maiúsculo.E deixo claro desde já que caso, por ventura, quaisquer dos fatos de fundamento duvidoso cá relatados – ou seja, TODOS, asseguro – se assemelharem com a verdade, ou a descrição de algum dos personagens lhe pareça familiar a esse político, aquele papa ou à senhora sua mãe: Isso é fruto da sua criativa imaginação, a carapuça serve a quem quiser. Por mais verdadeiro que o relato for, em algum ponto, pessoa ou nome tem o meu bedelho ou para no futuro não ser incomodado pela justiça ou pura e simplesmente para deixar a história/estória (a escolha vai da inocência de cada um) mais interessante. Assim sendo, é favor não me processar caso incomodados, não tenho grana para pagar indenização muito menos direitos por uso de imagem, e será a sua palavra contra a minha, e a minha, como já disse mas repito: É que é tudo ladainha! Tácio.Oliveira - O.Mentiroso