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Local: São Paulo, SP

JURO CÁ ENCONTRARÁ somente meias-verdades, histórias da carochinha e mentiras inteiras, com “M” maiúsculo.E deixo claro desde já que caso, por ventura, quaisquer dos fatos de fundamento duvidoso cá relatados – ou seja, TODOS, asseguro – se assemelharem com a verdade, ou a descrição de algum dos personagens lhe pareça familiar a esse político, aquele papa ou à senhora sua mãe: Isso é fruto da sua criativa imaginação, a carapuça serve a quem quiser. Por mais verdadeiro que o relato for, em algum ponto, pessoa ou nome tem o meu bedelho ou para no futuro não ser incomodado pela justiça ou pura e simplesmente para deixar a história/estória (a escolha vai da inocência de cada um) mais interessante. Assim sendo, é favor não me processar caso incomodados, não tenho grana para pagar indenização muito menos direitos por uso de imagem, e será a sua palavra contra a minha, e a minha, como já disse mas repito: É que é tudo ladainha! Tácio.Oliveira - O.Mentiroso

12.1.07

INSÔNIA FELINA

EU TIVE UM GATO. Por uma semana, mas tive. Um gato caracteristicamente noturno. Meu gato. Meu e da cachorra de estimação da vizinha. Da qual falarei a seguir como uma espécie de introdução:
Cindy, a cachorra, matou um gato. Em uma certa tarde de um certo dia de um certo ano a dita cachorra encontrava-se em mais um de seus longos banhos de sol, quando avista um ser quadrúpede e rebolativo andando quase que languidamente em seu quintal – SEU QUINTAL. O cão não tinha e nunca teve – defendo – nada contra gatos, leões, tigres e afins, mas o infeliz do gato passeava, lambia-se, passeava, parava e tornava a se lamber em seu território, demarcado em todo o seu perímetro por litros e mais litros da mais pura urina rusk (raça do cão). Apesar de toda a sua preguiça, digna de uma rainha, Cindy começou a incomodar-se com tamanha ousadia felina. Rangeu os dentes, coçou a orelha, lembrou-se por instantes da hierarquia animal, que por uma questão de status a colocava um nível acima daquela bola de pelos. Raiva. Rosnado. Corrida. Mordida. SANGUE. “LARGA O GATO, CINDY” – gritavam os donos. “Pelo amor de Deus, LARGA ESSE GATO” – insistiam enquanto aguavam uma Cindy que balançava loucamente um gato pardo e magrelo entre os dentes. O gato morreu.
Semanas seguiram e Cindy deixou de receber carinho, cócegas na barriga e olhares serenos. “Assassina” – condenava a dona da casa, como se a cachorra tivesse consciência do que palavra tão polissílaba significasse. Mas logo tudo foi esquecido e Cindy tornou a receber carinho, cócega, água fresca e muito amor, sem falar nos seus demorados banhos de sol que ela mesma se presenteava. Só que nem tudo era como antes, havia sim uma diferença: Cindy estava mudada. Dentro desse cão que antes habitava a inocência, vivia agora uma caçadora.

Agora começa a história do meu gato, que na verdade nem foi meu, mas tomei-o por estimação. Certa noite, quando indo dormir, ouço: Grunhaaaaaaaaauuuu!!! Pensei: o cão fez outra vítima, na certa morreu na primeira mordida-chacoalhada como já vinha ocorrido. Deitei na cama tranqüilo, como se nada de mais tivesse acontecido, como se tal incidente ocorresse em todos os dias de minha vida. O sono foi chegando, a cabeça foi se aconchegando no travesseiro, quando estava quase relaxado: MIAAAAAAU! Reclamou o gato. Acordei. O gato sobreviveu. E agora gemia um doloroso viver sobre o telhado do vizinho, observado pelo cão indiferente mas com um sorrisinho irônico. Após mais três ou quatro longos e inquietantes miados-gemidos o gato calou – ou então eu consegui finalmente dormir e não pude acompanhar o restante daquela novela.
Outro dia nasceu e na correria de um “acordar atrasado graças a um gato miante que não me deixou dormir” esqueci-me da vida do gato, mais preocupado em vestir a calça ao mesmo tempo em que penteava o cabelo e amarrava os sapatos. Esqueci-me até de me perguntar o que teria acontecido ao infeliz. O dia segue e se faz noite. Banho, pijama, boa noite e já pra cama. Deito e, como todas as noites, descanso a cabeça sobre o travesseiro: NHAAAAAAAAAAU, GRANHAUUU, NHAUU. E o gato continuava vivo. Dessa vez me pego pensando o que terá acontecido ao gato para se desgarrar da fúria do cão, ter forças para subir no telhado e, sobre este, miar a sua dor para quem quiser ouvir. Terá sido uma pata ferida? Será que sangrava muito? Será que estava tão ferido a ponto de não poder descer e rumar até sua casa? No dia seguinte subirei no telhado do vizinho para ver qual é o estado do “algoz do meu sono” e quem sabe ajudá-lo para quem sabe ao mesmo tempo me ajudar a dormir como antes.
Tal qual os outros dias, novamente me atrasei por não conseguir dormir em meio a miados e súplicas, tornando a esquecer a vida do gato. Mas a novela continuou a mesma coisa. À noite o gato miava e eu não dormia. De dia ele descansava as cordas vocais e eu corria para me atrasar o menos possível. E seguiu-se isso por muito tempo. Tudo igual, desde os miados até as minhas promessas de ajudar o gato. Tudo tão igual que com o tempo fui me afeiçoando a tão resistente gato, que com certeza gastava todas as suas sete vidas sobre aquele telhado, cantando em minha noite. O afeto foi tamanho que passei a acostumar-me com a presença de seus miados invadindo meu quarto. Agora tudo se fazia paz, ao menos para mim, ele miava chorando e eu transformava suas lamúrias em cantiga de ninar, e assim fui ninado pelo seu desafinado canto chorado por mais quatro dias. E eu sempre prometendo no dia seguinte ir visitar o gato, só que nunca cumprindo.
Chegado o quinto dia,fui para cama, deitei no colchão, descansei no travesseiro e esperei na noite o canto do meu gato. Mas se fez silencio.
O que terá acontecido? Terá morrido? Terá finalmente descido da “torre” e escapado da “cruel bruxa madrasta”? Esperei pra ver se a noite consolava a minha consciência culpada – por não ter ajudado o gato – e trazia a resposta em forma de miado. Mas o consolo não veio. Não veio nesta noite, nem na seguinte e nem na seguinte. Então no silencio do gato, tornei a não dormir.

Tácio.Oliveira - O.Mentiroso
P.S. - Comentários serão respondidos na própria página de comentários...

**Toda sexta-feira uma nova mentira**

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tácio
vc escreve muito bem O.O
nao sei se voce vai ler isso... (é que ngm lê nem comenta i.i)

10:55 AM  
Anonymous Anônimo said...

nossa, adoro o que vocÊ escreve!

2:07 PM  
Anonymous Anônimo said...

Atualiza isso, seu moço.
Acho seus textos tão interessantes...

11:44 PM  

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